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Perfil: Rapha Lopes

Postado 
11/10/2022
 às 
15:43

Perfil: Rapha Lopes

O perfil de hoje é com um dos artistas mais inventivos e disruptivos da cena nacional e internacional da tatuagem, o grande Rapha Lopes. Criado em um barraco na favela de Ubatuba, no Litoral Norte de São Paulo, Rapha saiu de uma infância extremamente difícil, em que precisava trabalhar com subempregos para ajudar nas contas de casa, e se tornou pentacampeão consecutivo da Tattoo Week, o maior evento de tatuagem do planeta, dono de um dos mais conceituados estúdios do Rio, e referência mundial na tattoo por seu estilo único como artista.

Uma infância difícil

Diferente do mar calmo das praias de Ubatuba, Rapha teve uma infância muito difícil. Catava latinhas na rua para vender e conseguir ajudar sua mãe a pagar as contas da casa, além de se sustentar de forma básica. Sua mãe, literalmente, deixava de jantar para que ele não ficasse com fome.

O “espaço de trabalho” era nada mais, nada menos, do que a praia. Em meio ao calor exaustivo enquanto sobrevivia, não só ele próprio, mas outras pessoas de sua família, Rapha parava nas barraquinhas dos tios pra comer um pastelzinho ou um cachorro-quente, mas uma em específico chamava mais a sua atenção: a de tatuagens de henna do tio Vivo.

O interesse pela arte

Entre as pessoas da família do Rapha que trabalhavam na praia, o tio da barraquinha de henna era o que mais faturava. A princípio, a necessidade urgente de ganhar mais dinheiro gritou mais alto e pediu para que seu tio ensinasse-o a fazer as tattoos, mas ele ficou relutante. Falava que “meu serviço é pra gente grande, ninguém vai querer fazer henna com um moleque.” Apesar da frustração, o interesse não diminuiu.

Depois das árduas jornadas na praia, assim que chegava em casa, a onda do Rapha era pegar uma caneta, uma folha A4 e praticar tribais na tela. Todas as vezes que ia na casa do tio, fazia questão de mostrar seus treinamentos e pedir opiniões.

O primeiro trampo como artista

Esse aí a gente nunca esquece, né? Bom, depois de muita insistência, o tio Vivo foi convencido que o Rapha podia ajudar na barraquinha. Na hora, ele já largou suas outras tarefas na praia e começou a trabalhar com arte.

Uma coisa que chamava bastante atenção dos clientes da barraca, era a peculiaridade no fato de um garoto de 13 anos estar destruindo nas tattoos, e bom, isso começou a incomodar o tio Vivo, que estava perdendo a clientela pro Rapha, e tratou de dar linha no sobrinho, falando pra ele fazer sua própria barraquinha de henna. E não deu outra, foi sucesso. A grana finalmente começou a entrar de forma mais volumosa pro Rapha e pra sua mãe.

Destino: Rio de Janeiro

Começou a entrar mais dinheiro, mas a realidade ainda era muito cruel. Muitas vezes, o Rapha e sua mãe não conseguiam arcar com as despesas de aluguel e eram despejados de onde estavam. 

Sem saída, o Rapha optou por tentar a sorte no paraíso tropical e foi morar com seu pai no Rio de Janeiro. Chegando lá, conseguiu uma bolsa de estudos com 90% de desconto em um curso de Mecatrônica, num colégio técnico. Mas era algo que não tinha nada a ver com seus gostos pessoais, estes que, por sinal, ele não deixava de praticar, continuava desenhando sempre que podia.

Amanda, um anjo na vida do Rapha

Sair de uma cidade litorânea de temporada no interior de São Paulo e chegar em uma das maiores metrópoles da América Latina é um colapso de realidade, e não foi diferente com o Rapha, que teve que se adaptar na marra à vida na capital carioca.

Mas o divisor de águas, não só em sua adaptação e mudança de mentalidade, como na vida como um todo, também estava ali, e se chamava Amanda, que hoje é sua esposa, em um relacionamento contemplado por mais de 15 anos.

Provenientes de duas realidades distintas, Amanda fala que nem queria dar uma chance pro Rapha, mas o acaso é o melhor amigo do destino e foi nessa premissa que a Amanda entendeu, que além de o amar muito como namorada/esposa, precisava ser uma amiga e conselheira pra vida.

A renda antes da tattoo

Em paralelo ao relacionamento forte que ia construindo com a Amanda, o Rapha não podia ficar parado. E não ficou, trabalhou com tudo que você pode imaginar: foi motoboy, costureiro, vendedor em várias lojas de shopping, freelancer… e por fim, aos 21 anos, começou a ralar em uma concessionária de veículos.

Ficou lá até os 26 anos. Nesse meio tempo, iniciou os estudos de ensino superior em uma faculdade de Desenho Industrial, por orientação da Amanda, que insistia na ideia do Rapha viver com algo relacionado à arte e seu talento para desenhar.

O artista Rapha Lopes

Por fim, a ascensão. Na faculdade, o Rapha conseguiu entender técnicas e teorias de desenho, foi se descobrindo cada vez mais como um artista na mais pura essência, e o respaldo acadêmico o ajudou bastante. Veio, também, a conexão com seu passado. Em meio a uma infância difícil, era impossível não lembrar da barraquinha de henna do tio Vivo e de como era prazeroso ganhar dinheiro tatuando.

Era isso. Sempre foi tatuagem. Sempre foi arte. No dia do seu aniversário, o Rapha ganhou de presente da Amanda o seu primeiro kit de tatuagem da Art Fusion. A felicidade foi instantânea, ele já saiu rabiscando, literalmente, TUDO que via pela frente, inclusive a parede de casa (!!!), sem saber a voltagem correta, sem saber sobre aplicação de superfície… o prazer era sentir a máquina em mãos, se sentir um artista.

Não deu outra, após um tempo tentando conciliar o trampo na concessionária com a vida de tatuador aos finais de semana, o artista Rapha Lopes era o que trazia realização e felicidade. O Rapha largou o emprego na concessionária e começou em um estúdio minúsculo, ainda em sua casa, mas passou a viver integralmente como tatuador.

Hoje, o Rapha e a Amanda são os proprietários do Metamorphosis Tattoo, o estúdio particular do Rapha, localizado na Barra da Tijuca, uma das áreas mais nobres do Rio de Janeiro, são pai e mãe de dois filhos e seguem firmes buscando cada vez mais desafios para serem superados.

E esse foi o nosso perfil de hoje, uma história de vida que poderia facilmente se tornar um filme, né? O Rapha é a personificação de resiliência e trabalho duro. Gostou do texto? Se sentiu inspirado? Então não deixa pra amanhã o que você pode fazer hoje, corre atrás, a vida é um desafio e sempre vai ser, mas assim como o Rapha demonstrou, você é o único que pode inverter o jogo!

Autor (a):

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Gabriel Lima
Quase jornalista, quase designer e quase tatuado. Apaixonado por esportes, cultura de rua e pelas histórias que a vida conta.